quinta-feira, 16 de abril de 2009

1h21

Demora-se minha retina interna a editar do lado de dentro o que vejo do lado de fora... Mas não há nada para ver: imagens repetitivas e sucessivas que a experiência estreita de tantas memórias sobrepostas pode oferecer. São como os livros amontoados de poeira na estante.
Não existes em tua memória. Só podes Existir Em Verdade no teu Coração. – algo me diz!
Há um único lugar íntimo a que se olhar. E, no entanto, tantos diferentes olhares não o vêem, nem o encontram. Porque de fato não o querem ou pensam que não há nada a se encontrar... – E eu que quero tanto não o vejo, apesar de senti-lo imenso.
Escureço sem pôr-do-sol,
E amanheço por coisa alguma. – (Penso isso num silêncio cheio de sono). E sonho com o sono da cidade que ficou da janela para fora...
Será que sou inteira? - Sempre me pergunto!
...
Agora penso que se em um único grão de areia coubesse a Terra Inteira não mudaria em nada o tamanho da saudade que experimento recorrentemente. – Fujo!
Mas e o que seriam das estrelas, mesmo assim? E os planetas? E todo esse vazio que não o É? –Finjo que acordo!
Para cada par de sóis, um trasbordante: Quem sois vós?
(Ah, quanta beleza guarda o não saber)...
E eu? Eu! Ah, eu sou Boba. No sentido pueril e translato de ser Boba. Nenhuma agressividade tem toda esta bobice minha... - Ufa! Agora sim.
Sou uma grande nuvem branca de palavras sem pontuação numa tempestade sem chuva. E além de ser boba, tenho a sede orgânica e imaterial de Ser qualquer coisa diferente desta que escreve, porque se encontra neste pedaço de alma a permanecer sentada numa gangorra.
Ah, sinfonia crônica e incurável!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Metade

Eles São
E Eu Não ... Não converso mais com estranhos
Sou uma
Meia
Estranha
Nego meu destino
Num suicídio íntimo
Minha salvação
É como uma paralisia
Reconheço E me nego o Meu destino
Negro céu Pela metade
Um copo cheio de vontade
Eles São
Vice-Versa
Inteiros em mim
Quando sou Eu com Eles
Inteiros eles
Intactos
E eu?

Eu não tenho lugar nesse mundo...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Teu olho pra mim Pérola Negra
Meu coração na zabumba
Balança
Seu tom é verde-rosa-mangueira
Quero toda tua Cor que seja minha
Qualquer uma que seja


Que se faça
Do teu carnaval a minha avenida.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Sem Noite

Observa o Céu que não resiste...
Arrebenta-se num choro solene
Chuva quase cantada
Num coral uníssono.
E eu, sonhando em pensar que Sei e que ora Estou e que talvez até Onde, ambiciono também derramar-me em lágrimas igualmente verdadeiras.
Não há Onde neste mundo e nem em qualquer outro.
Porque aqui, neste mundo, somos apenas um vulto no escuro que muda de Lugar.
O escuro é que muda de lugar.
Tenho um Eu Vulto: não me esconda!
Me encontro como a violência de um silêncio forçado
E também como esta chuva que está, mas não existe.
Repito que não existe: não me encontra!
Espreito então o vão da minha inércia resistente
O vão da minha inércia recorrente
Que é para arrancar de mim aquilo que não sou, mas estou por insuficiência crônica da Alma cansada.
Ah! Quero chover como esta água que se despe para um céu mudo e solitário.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Ex-patriada

Depois da separação sigo numa dificuldade em destituir o nós
Um nosso
Porque não sou mais Eu
Não é mais Ele
Não somos Nós
É um cômodo-imenso-incômodo
O quarto, um enorme vazio claustrofóbico
Diálogos desacompanhados
Seguido por silêncios parafraseados
A unidade desvinculada do seu próprio nome
Eu, Tu, Ele, Ela
Eu fui...
Quem é ela?

Entre três andares

Dentro do elevador uma nuvem de palavras deixa que os andares de tempo passem em brancas lacunas.

A porta se abre e num susto esperado ela segue num corredor de silêncio para a porta que deixa de fora o que deveria estar por dentro.

Observa, com os olhos fixos de fantasia e fumaça, rosto a rosto disfarçadamente para si mesma.

E caminha sem saber dos passos nem de coisa alguma.

Perde a atenção para um arco-íris preto e branco. E volta os olhos para dentro de si procurando apenas uma cor na aquarela em que tudo fica misturado.

Incompleta percebe aquela cor que está, mas não lhe pertence.

Porque não há tinta

Não há pincel

Há só uma tela em branco e uma folha com rasuras

- “Olha quem vem ali!”.

Quanta beleza perde-se num sonho...

Conjuntivite – 25/02/2008

Olho para minha mesa bagunçada, e me parece (por vezes) mais familiar que a minha própria casa.
O teclado,
Os papéis em desordem,
A garrafa plástica com um vestígio de água.
O copo de café sem cinzas, sem vestígios do café.
Um corpo com vestígios, metade cheio.
Depois de um dia cheio, metade sem Fé.
Tintas e anotações sem sentido daquelas anotações que registro com meus olhos acesos.
Minha vida permanece sentada enquanto eu permaneço igualmente sentada como estou agora.
Então levanto-me, cheia de coragem, como quem vai ousar
Com o espírito voltado para grandes realizações.
Mas logo me perco...
Estímulos me distraem.
Então, desço os elevadores e me desafio a fumar um cigarro.
(Todos os dias eu fumo, pelo menos, um cigarro).
E me testo quando desço os elevadores tentando ficar presente.
Me testo ao acender o cigarro, correndo poesia no pensamento.
E aconteço na minha prosa particular quando decido caminhar com verdadeiro movimento,
Como se derradeiro ele fosse...

[Não se caminha com movimento normalmente, as pessoas caminham estáticas porque não sabem de si, não se pertencem]

Mas o que me movimenta é aquela que sente
Aquela que se move dentro daquilo que sente (como se não fosse eu)
E meus olhos vêem e movem cores em mim, mas nos olhos dos outros...
Porque os meus estão inflamados...